01/04/2008

Velório

Na última semana, sem querer, passei em frente a um velório. Uma funerária, muita tristeza, um calafrio suspenso e flores – muitas flores. Pude ver o cansaço estampado nos rostos dos mais aflitos. Nunca saberei o motivo da morte, mas no instante que observei a cena, soube o motivo do cansaço. Eles estavam cansados de tentar entender o porquê/como tudo aquilo acontecera. Devem ter praguejado, relutado, lutado, revidado, chorado e lamentado. Até que cansados resolveram aceitar, o que não é tão incomum nessas situações. Renderam-se. Haviam muitas palavras perdidas, e eu sentia todos os cheiros. Eram “obrigados, adeus, volte, não, por que, como, amo, acredito, Deus, céu, morte, descanso,..., inferno”, todos com cheiro amargo do arrependimento. Ninguém notou minha presença, estavam exaustos demais para perceber o óbvio. Houve uma lágrima minha de compaixão, eu os entendia bastante e por entendê-los não conseguia dizer uma só palavra. O meu silêncio dizia tudo, e todos aceitavam. Então, novamente, tu me reapareces e uma nova verdade, vestida com um velho manto: Não estou preparado para te ver morrer. Há tanta vida que ainda não compartilhamos, tantas palavras suspensas que ainda não consegui pegar para te entregar. Por favor, não morra. Não agora.

25/03/2008

Nós é um

Eu queria te fazer feliz,

amar-te até perdemos o fôlego.

E juntos, novamente, iríamos longe.

Tu e eu tão distantes de todos e de tudo

que somente o silêncio nos envolveria.

Nada de cansaços, nada de nada.

Nos bastaríamos e mesmo na ignorância

a nossa verdade seria uma só:

nós é um, sem sabermos.

21/03/2008

Estrelas.

Essa minha luta desenfreada para saber esses porquês um dia me matará. Especialmente hoje, que depois de um despertar, consegui sentir o cheiro do fim e o gosto doce das coisas bem-feitas, sinto que esse dia chegou para coroar o fim, e existe uma lágrima de felicidade querendo desabrochar no meu rosto. Nada de me perguntarem o porquê - Uma dica: vivam o momento da morte, esqueçam da vida nesse instante, só se morre uma vez. Queiram a ignorância, busquem-na. Mas não tentem entender o porquê da solidão, ou o da morte. Todos morreremos, e mesmo depois da morte a nossa estrela continuará brilhando no céu. As estrelas sempre serão solitárias.

04/03/2008

precisão

E foi pouco após o fim da noite longa e violenta, onde corpos lutavam contra o pudor e ter liberdade era lema para se prender ao paraíso. Foi exatamente após o fim de uma batalha pessoal, de eu-branco contra eu-negro, de tu-branco contra tu-negro – batalhas distintas – após lutarmos contra o nosso próprio Deus. Mas não antes de chegarmos a conclusão de que o nosso próprio Deus é tudo aquilo que não somos, Ele é nossa sombra mas sem ser nós, ou misturar-se: tem o nosso formato mas não a nossa propriedade. Foi depois de tanta coisa ruim, e não antes de estarmos tão cansados a ponto de nos fecharmos para o mundo em uma cegueira permitida. Foi agora, nesse momento que cegos para o mundo além de nós e tão livres que nos permitimos voar para longe de todos que chegamos a doce conclusão da nossa necessidade. Foi depois de um abraço e algumas palavras soltas, coloridas por uma verdade-escura, que percebemos finalmente o tanto que precisamos um do outro, e com uma urgência tremenda.

26/02/2008

Ser

Começarei a ler o ‘livro do ser’, cedido gentilmente pelo Rosiel M., mas antes de começar mesmo, escrevo esta anotação:

O que qualquer coisa precisa para ser? Sou, logo existo. Existir não é certeza de ser, mas ser é fruto de existir. Só se é quando se existe. Não se ensina a existir, assim como não se ensina a ser. Vai sendo intuitivamente, porém não se vai existindo. Existir é único, de primeira, existe-se e pronto. Nunca mais terás outra chance de existir novamente. E Deus disse: Existam. Então tudo o que existe, é. E do instante posterior ao existir, as coisas estão sendo. Ser é invenção. Inventa-se mundos, fatos, estórias, piadas, músicas. Depois junta-se tudo e formamos um ser, que é por existir e não o contrário. Nem todos os que existem, são. Há aqueles que por ter surdez, não ouviram o grito de Deus, mas existiram por bonança. E como não tiveram a noção de que existiam, não foram, e não são até hoje, só existem. Porém, existir não lhes é suficiente, muitos optam por não mais existir, outros vão sendo intuitivamente sobreviventes (mas não necessariamente são, somente sobrevivem). Aliás, há quem exista e não quer ser por opção, e luta contra, e se contrai, e retrai, e se isola. Tolos. Mal sabem que mesmo fazendo isso, continuam sendo. E vão ser até o fim. Ser, apesar de intuitivo, é inevitável.
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24/02/2008

Sobre o caio

Hoje andei lendo Caio (não gosto, por motivos de falta de sorte, de Caios). Porém deste eu gosto: Caio Fernando Abreu. E ele me deu um tapa tão dolorido no meu rosto direito, talvez por ser fã da Clarice, o que não e espanta esse tapa, já que ela mesma me deu tanto e continua até hoje. Mas andei lendo sobre Adèle Hugo, que amara tanto um homem que o transformou em um símbolo sem face e nem corpo, fruto da paixão e da loucura dela. Resumindo, ela amava alguém que não existia, somente dentro dela. Foi um calafrio, um aperto, um nó. Mas pensei comigo e cheguei a testar a veracidade da tua existência. Será que existe mesmo? Ou será que eu amo o seu falso eu, encarnado e idolatrado somente por mim? Mas sei que existe, ou estaria extremamente louco já que amo esse teu eu que diz nos meus ouvidos o quanto gosta do meu cheiro, e que se sente protegido quando está perto de mim. É esse que eu amo, e é esse que sempre habita em ti, portanto, sei que existe! Meu cego amor não me engana, não hoje.

Leiam o texto na íntegra:

http://camelolendo.blogspot.com/2007/09/extremos-da-paixo-caio-fernando-abreu.html


em seguida, passem a gostar do Caio Fernando Abreu.
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23/02/2008

Poesia

Se um dia quiseres sumir,
que seja dentro de mim.

Se perca por dentro do que é teu.

E se quiseres ficar pequeno - bem pequeno
deite nos meu braços,
farei carinhos e se sentirás menino, de novo.

Só nunca queira morrer,
por mais forte que pareça ser.
Eu jamais suportaria.


ps: não sei dar título as minhas coisas :\. mas isso é pra você, pr.

20/02/2008

Textinho número 3

A minha angústia não é saber até onde vai a minha liberdade, mas não perceber quando estou desobedecendo os limites da liberdade alheia, por mais que o alheio me pertença. Perceba que você já me pertence. Deixar-te livre por alguns instantes, míseros segundos ou dias, me deixa extremamente louco. Por um lado tenho medo de perdê-lo, mas por outro tenho medo de parecer possessivo demais. E sabemos o quão o exagero é prejudicial. Inclusive no amar. Amar exageradamente é doença, e por Deus, juro que me sinto quase assim, somente quando me dou conta da minha loucura é que te deixo de lado, e vou respirar por ares mais puros, longe de ti, no entanto. É nesse momento que tens o teu tempo livre para fazer as coisas todas que pretendes longe de mim, claro. Mas se por perto, me dói, longe, me dói triplamente. Sinto tanto medo, mas tanto medo que parece um infarto com insuficiência respiratória. Se não te respiro, acredite, morro. Cheguei a conclusão que preciso mesmo te respirar para sobreviver, inclusive, sei que te amo mesmo. Mas, o que tenho de fazer é aprender a amá-lo tanto que não precise o tempo de todo de ti. Preciso te amar, sem estar à beira da loucura, sem pensar no amanhã ou no hoje, sem que sinta esse desespero todo.

19/02/2008

Textinho número 2

Por mais que ainda exista o surdo silêncio que não grita, só geme, dentro, em algum lugar por dentro da minha casca deformada, sei que existe uma outra luz que não me deixa ouvir nada, nem a mim mesmo. É mais forte do que eu, e mais forte do que jamais pensei que fosse. Não é bipolaridade, ou algo do gênero, mas quando estou triste, extremamente depressivo, sou preenchido, pelas narinas, por essa luz. Um combustível tão forte e ao mesmo tempo simples de se encontrar já que tenho uma fonte repleta dele, basta que pense em ti por um instante e logo tenho livre acesso a minha abundância de vida. Só que por vezes, acho que tudo isso surreal demais, parece com os relógios derretendo daquele famoso quadro. Ou ainda, o Abaporu da Tarsila do Amaral: é real, mas não é o real. Sei que podes não ser nada do que acho que és, ou ainda não és, porque sei da minha ‘vanguardisse’. Mas queria mesmo te dizer algo: Não me dê esperanças, no entanto, me dê motivos para continuar te amando.

12/02/2008

respire.

O que me conforta é uma angústia
de uma finura comprida – cutuca,
fura,
espeta.

Até que ele: o escarlate corre.
escorre na ponta aguda.

Novamente, não há cores.
só o vermelho, que ainda transborda.

Foi por pouco.
Quase, quase a morte,
Não fui sorteado, e vivo.

Por que vivo?
(respiro).

10/02/2008

ah, se tu soubesses.

Ah, se tu soubesses. Fiz tantas coisas antes de nascer pra ti, saberias o tanto que andei, corri, chorei, sorri, roguei, implorei e rezei pra te encontrar, é que a minha necessidade de te ter já nascera junto com o meu primeiro choro, e por muito tempo te procurei desesperadamente em outros gostos e rostos, e era um desespero, uma ânsia. Contei todos os dias que passara sem sentir o teu cheiro, tudo porque não te ter era morrer o tempo todo. E morri tantas vezes que já pensava que nunca te encontraria. Essa ausência transformada em saudade me doía, e de morte em morte fui contando os dias que me faltavam. Foi quando do silêncio, que me preenchia, um branco alvíssimo manchado somente com um ponto negro de bordas vermelho-sangue, puro sangue, surgiste junto com a aurora de um dia primeiro, e tu me vens, e sinto uma vontade clandestina de dançar, de cantar, ouviam-se dos rios do meu coração grandes cânticos e louvores, todas as borboletas bateram asas dentro de mim. Era de uma imensidão tão incompreensível que quis correr pra longe, me refugiar e confesso que tive medo, muito medo de. Nesse instante, deixei de ser um farelo na imensidão do mundo, e um grão no universo. Eu era tão grande que nem cabia em mim. Ser imenso como me tornei não fora fácil, nem prazeroso, continuou doendo, só que bem mais forte, e amaldiçoei a aurora que te trouxe, sujei tanto quanto consegui o meu nome, para que eu pudesse sentir nojo de mim e me acostumasse a nunca te ter, porque, sabia que não merecia tudo o que já tinha. Até que descobri que isso sempre fora amor, e novamente os cânticos, as borboletas, as danças e senti pela primeira vez o teu cheiro, e eu inalava tanto, na esperança de te possuir por dentro que acabei por esquecer que o veneno que exalas me é mortal, e por onde ia precisava te sentir por perto, por dentro, me afogando, me acalmando, me consumindo e me procurando. Foram longos dias e ah, se tu soubesses. O cheiro de felicidade que meus poros exalavam no momento em que abraçados, e cansados, e comovidos, e exaustos, e juntos finalmente chegamos a conclusão que precisamos do outro para tentar viver. Juntos. Ah, se eu soubesse que esse pulsar que ainda hoje me remete as auroras, aos cânticos, as danças e ao cheiro, sempre fora amor.

31/01/2008

máscara de rosas

Ele já estava acostumado em não transparecer os seus sentimentos, aprendera técnicas que só com ele mesmo funcionaram. Todos os dias, ao acordar, faz as mesmas coisas. Toma seu banho, o seu café, sempre a mesma marca de iogurte, troca de roupa enquanto assiste as primeiras notícias do dia, mas antes de sair de casa pega uma máscara no armário do quarto e a usa durante o dia. É um ritual que deve ser cumprido à risca.
Já estava, totalmente, integrado a sua nova realidade. Afinal, foram longos nove meses até a adaptação total. Um parto. Um longo e árduo caminho até aqui. Não somente a redenção, além de tudo a aceitação. Treinou em aceitar, e de tanto treino de fato conseguiu. Estava apto a ser frio e calculista. Prometera a si e a tudo que havia de importante, o amor-próprio, que jamais iria sofrer novamente. Não daquela forma. Não incompreensivelmente daquela maneira. Não mais.
Havia a custo de tantas lágrimas aprendido a lição. Então, começou o seu tratamento. Antes de qualquer coisa, chorou. Lágrimas amargas, frutos de uma felicidade doce. De joelhos se rendeu, com o coração em frangalhos lamentou: Por não ter sido o suficiente e ter deixado aquela chama se apagar, por ter se entregado tão facilmente a um amor. Lamentou profundamente por tudo até que um alguém desconhecido o abraçou, e sem dizer nada o acalmou. Esse tinha sido o primeiro passo, só o inicial de tantos outros.
O segundo foi tão mais doloroso que pensou em desistir, desabar e sair correndo. Mas ele era mais forte que a sua vontade e prosseguiu firme. Após aquele primeiro passou o que sentia se resumia em ânsia. E para a sua não havia remédio, somente uma cura, uma cirurgia sem anestesia. Deveria ser um amputamento. Isso o angustiou e foi nesse instante que pensou em desistir, pensara que não suportaria, estava enganado. Vomitou tudo que sentia. Transformou a ânsia, antes abstrata em um objeto. Contrações de dentro o avisaram da coisa, e foi com força, muita força, uma força sobrenatural, que ele nunca imaginou ter que arrancou. E veio constante, pulsando de tão viva. Suas pontas brilhantes o cortaram todo, cortes profundos. Uma dor viva e alvíssima gritava até que sufocada pelo sangue escarlate, calou-se, estava morta. No fim, uma semente, de tons dourado, em forma de estrela saiu por sua boca. Novamente chorou, mas sem se lamentar.
Construiu um mausoléu em forma de jardim para guardar a semente. E o fez com afinco, por fim e bem no centro enterrou a semente e se lembrou de esquecer de lembrar para que não a cultivasse. Estava morta, portanto não regou.
O terceiro passo foi mais simples. Era o do faz de conta. Agora por ser oco não era tão difícil fingir. Fazia de conta que não havia o jardim. Fazia de conta que uma felicidade o preenchia. Fazia de conta que era auto-suficiente. Fazia de conta que a liberdade era exalada por suas narinas. Fazia de conta que não havia cicatrizes da ânsia. Fazia de conta que não sabia chorar. Fazia de conta que era o dono da sua vida. Fazia de conta que tinha tudo que precisava, e não precisava de muito. Fazia de conta que já tinha aprendido tudo que alguém precisa aprender. Fazia de conta que era leve. E acima de tudo, fazia de conta que todo o faz de conta era de verdade.
Esse último faz de conta era o principal, pois no fundo uma voz deveria ser abafada. Era a voz da razão, da verdade que tentava, em vão, lhe sussurrar que tudo era mentira. E esse faz de conta era fermento, e depois de fermentado, cresceu. Amargou. Era regente. Dominante. E o faz de conta se tornou a verdade.
Agora, faltava o último passo. Construir e incluir todo esse processo em sua rotina, mas deveria ser simplório. Não gostaria de passar tudo novamente. Pesquisou e o adaptou. Construiu com as próprias vontades uma máscara, e a usava diariamente. Pronto, estava terminado.
Hoje, se passou mais de um ano desde o choro inicial. Sua vida era a rotina de sempre. Só que estava forte e acostumado aquilo todo. Totalmente adaptado. Não desejava mais nada. Estava pronto e determinado a ser, até a sua morte, daquele jeito. Inclusive, se achou preparado a voltar ao mausoléu que tinha construído.
No outro dia, após um dia normal no trabalho, tratou de ir até lá. E assim o fez. Chegou de peito erguido, mas logo se benzeu como demonstração de cumplicidade com tudo que aquilo representava. Entrou com a certeza que estava preparado para finalmente rir de todo aquele passado. Enganou-se.
Ao olhar para o centro, vislumbrou uma rosa amarela, vigorosa, deslumbrante, magnífica e de um aroma inexplicável. A luz e força que exalava eram tão sublimes que foram capaz de quebrar a máscara. Não se contendo, caiu e de joelhos agradeceu. Novamente chorou. Ao ter de deixar o jardim compreendeu que a amava fortemente. Viu indo com o vento a sua promessa. Não poderia cumprir, por um simples motivo: A Rosa passou a ser mais que tudo, passou a ser a razão.
ps: não sei dar título aos meus textos.

26/01/2008

Maior amor do mundo

Por vezes fico intrigado com coisa pouca. Começa com uma mera pergunta, e vai inflando, inflando e inflando. Inflamando. Passa a ser uma espécie de crise, profunda e séria. Fogo ardente. Sinto-me febril, queimando, ardendo em dúvidas.
Recentemente esse fogo me consumiu através de um título de um bom filme nacional: ‘O maior amor do mundo’. E ao sair daquela escuridão e contemplar a luz não fiquei de fato enxergando tudo claramente. Meus pensamentos eram chamas ardorosas, consumiram cada instante até que cansado, compartilho convosco desse fogo. Sirvo de brisa, daquelas que espalham suavemente o fogo sobre a pastagem virgem
A causa do incêndio é aparentemente sem sentido. Quando se olha superficialmente, claro. Mas não é. E nisso, de não deixar transparecer, é que vai inflamando cada vez mais. Pare agora antes de ler a próxima frase. A razão do ardor é a descoberta da dimensão do amor.
Amamos, naturalmente, muitas coisas. Incluindo objetos, sensações, animais, pessoas e até pensamentos. Abre parênteses (gosto da palavra parênteses, não do símbolo, esse me parece algo tão “desemocional”). Não confunda o gostar com o amar. Aparentemente idênticos, mas o gostar é várias vezes de menor intensidade se comparado ao amar. O gosto evolui para amor, no exato instante que aquele passa a nos doer. Tudo no silêncio, nunca percebemos. Fecha parênteses.
Eu, por exemplo, amo coca-cola, chuva, andar descalço, árvores, blusas brancas, Bossa Nova, Elis Regina, vermelho, sapato velho, cheiro de novo, vento nas orelhas, angústia, farinha láctea, leite gelado, Maria Rita, água gelada, manhãs de domingo, macarrão, livros, pôr do sol, sorvete de brigadeiro, ..., Jazz, Amy Winehouse, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, meu afilhado, amigos, Português, Literatura Brasileira, tardes de sábado, família, teatro e abraços. Se você possui cadastro em alguma rede virtual, tente pesquisar, achará amantes disso e inclusive daquilo.
Ninguém passa uma vida inteira imune ao amor. Acreditem. Inclusive aqueles que se negaram a se relacionar com outras pessoas, esses invariavelmente amaram a solidão. Os que não amaram nem a si próprio, provavelmente amavam, numa espécie de inveja, o semblante do próximo. Possa até ser, e agora vislumbro com seriedade este fato, aqueles que nunca foram alvo do amor, os que sob hipótese alguma nunca foram o complemento verbal do amar. Deve ter existido alguém que não tenha sido amado, mas quem nunca amou é boataria.
Sabendo disso, somos automaticamente capazes de entender o tamanho real de cada amor. Ninguém ama tudo da mesma forma. Verdade seja dita: Não é possível e se torna lamentável quem assim afirma. Tente imaginar uma situação extremista, onde você deverá ser o algoz de um de seus amores. Surgiriam dúvidas sobre qual deles aniquilar, mas somente você seria capaz de decidir, e afirmo que, com um pouco de receio, a sua escolha seria, talvez involuntariamente, feita. A contra gosto, mas existiria. Confesso que parece um exagero, dos brabos, mas quando falo de amor devo ser exagerado. Assim ele o pede que sejamos.
Aliando a certeza que todo mundo ama ao fato que não existe amor igual, podemos tirar a conclusão que, de algum modo, existe o tal do maior amor do mundo. Ou seja, cada um tem plenas condições de bradar quem ou o quê lhe infla mais quando o assunto é o amor. Simples como amar, e leve se fácil fosse. Infelizmente não é.
Cazuza, o cantor, em carta a sua mãe Lucinha escreveu uma frase que me emocionara bastante: ‘[...] Te amo do umbigo. [...]’. Acreditei por meses que essa era a prova real de que o amor pais-filho era o maior de todos. Novamente fui enganado, o amor que me desde sempre me cegava. Vieram Suzanes, abortos, tragédias e abandonos. E a certeza foi diminuindo na intensidade, ao ponto de se transformar novamente em dúvida. Regressão.
Qual seria o maior? Alguém seria capaz de amar mais um pedaço de torta de chocolate do que a própria mãe? Como aceitar que é tudo igual? Existe cabimento pra isso? Como explicar o porquê de alguém doer mais do que outrem?...
Essas dúvidas me queimavam, ardentes. E o devaneio de um mero pensamento já o inflavama mais. Era uma fogueira, forte, vermelha. Até que num desequilíbrio: a água. E a fogueira foi, aos poucos, sendo reduzida a cada gota. E como isso?
Simples, deixei de pensar no amor. Passei a senti-lo.