26/01/2008

Maior amor do mundo

Por vezes fico intrigado com coisa pouca. Começa com uma mera pergunta, e vai inflando, inflando e inflando. Inflamando. Passa a ser uma espécie de crise, profunda e séria. Fogo ardente. Sinto-me febril, queimando, ardendo em dúvidas.
Recentemente esse fogo me consumiu através de um título de um bom filme nacional: ‘O maior amor do mundo’. E ao sair daquela escuridão e contemplar a luz não fiquei de fato enxergando tudo claramente. Meus pensamentos eram chamas ardorosas, consumiram cada instante até que cansado, compartilho convosco desse fogo. Sirvo de brisa, daquelas que espalham suavemente o fogo sobre a pastagem virgem
A causa do incêndio é aparentemente sem sentido. Quando se olha superficialmente, claro. Mas não é. E nisso, de não deixar transparecer, é que vai inflamando cada vez mais. Pare agora antes de ler a próxima frase. A razão do ardor é a descoberta da dimensão do amor.
Amamos, naturalmente, muitas coisas. Incluindo objetos, sensações, animais, pessoas e até pensamentos. Abre parênteses (gosto da palavra parênteses, não do símbolo, esse me parece algo tão “desemocional”). Não confunda o gostar com o amar. Aparentemente idênticos, mas o gostar é várias vezes de menor intensidade se comparado ao amar. O gosto evolui para amor, no exato instante que aquele passa a nos doer. Tudo no silêncio, nunca percebemos. Fecha parênteses.
Eu, por exemplo, amo coca-cola, chuva, andar descalço, árvores, blusas brancas, Bossa Nova, Elis Regina, vermelho, sapato velho, cheiro de novo, vento nas orelhas, angústia, farinha láctea, leite gelado, Maria Rita, água gelada, manhãs de domingo, macarrão, livros, pôr do sol, sorvete de brigadeiro, ..., Jazz, Amy Winehouse, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, meu afilhado, amigos, Português, Literatura Brasileira, tardes de sábado, família, teatro e abraços. Se você possui cadastro em alguma rede virtual, tente pesquisar, achará amantes disso e inclusive daquilo.
Ninguém passa uma vida inteira imune ao amor. Acreditem. Inclusive aqueles que se negaram a se relacionar com outras pessoas, esses invariavelmente amaram a solidão. Os que não amaram nem a si próprio, provavelmente amavam, numa espécie de inveja, o semblante do próximo. Possa até ser, e agora vislumbro com seriedade este fato, aqueles que nunca foram alvo do amor, os que sob hipótese alguma nunca foram o complemento verbal do amar. Deve ter existido alguém que não tenha sido amado, mas quem nunca amou é boataria.
Sabendo disso, somos automaticamente capazes de entender o tamanho real de cada amor. Ninguém ama tudo da mesma forma. Verdade seja dita: Não é possível e se torna lamentável quem assim afirma. Tente imaginar uma situação extremista, onde você deverá ser o algoz de um de seus amores. Surgiriam dúvidas sobre qual deles aniquilar, mas somente você seria capaz de decidir, e afirmo que, com um pouco de receio, a sua escolha seria, talvez involuntariamente, feita. A contra gosto, mas existiria. Confesso que parece um exagero, dos brabos, mas quando falo de amor devo ser exagerado. Assim ele o pede que sejamos.
Aliando a certeza que todo mundo ama ao fato que não existe amor igual, podemos tirar a conclusão que, de algum modo, existe o tal do maior amor do mundo. Ou seja, cada um tem plenas condições de bradar quem ou o quê lhe infla mais quando o assunto é o amor. Simples como amar, e leve se fácil fosse. Infelizmente não é.
Cazuza, o cantor, em carta a sua mãe Lucinha escreveu uma frase que me emocionara bastante: ‘[...] Te amo do umbigo. [...]’. Acreditei por meses que essa era a prova real de que o amor pais-filho era o maior de todos. Novamente fui enganado, o amor que me desde sempre me cegava. Vieram Suzanes, abortos, tragédias e abandonos. E a certeza foi diminuindo na intensidade, ao ponto de se transformar novamente em dúvida. Regressão.
Qual seria o maior? Alguém seria capaz de amar mais um pedaço de torta de chocolate do que a própria mãe? Como aceitar que é tudo igual? Existe cabimento pra isso? Como explicar o porquê de alguém doer mais do que outrem?...
Essas dúvidas me queimavam, ardentes. E o devaneio de um mero pensamento já o inflavama mais. Era uma fogueira, forte, vermelha. Até que num desequilíbrio: a água. E a fogueira foi, aos poucos, sendo reduzida a cada gota. E como isso?
Simples, deixei de pensar no amor. Passei a senti-lo.

2 comentários:

lipimveloso disse...

pois é hj fiz meu segundo post.gostei sabe..pq só qm eu qro q vê não é tao publico como um fotolog.
eu postei antes de ver o teu...
abraço bom dia pra vc!!

(Marta Selva) disse...

sou tua fan
ta decidido.